terça-feira, 13 de agosto de 2019


MEDO E RESPEITO
Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo



            Durante o período da vigência do Mito, percebemos a criação das referências psicológicas com relação aos seres e acidentes da natureza decorrentes dos perigos que principalmente os acidentes naturais poderiam causar ao ser humano, tais como chuvas torrenciais, queda de barreiras, alagamentos e demais percepções, bem como o medo que tudo isso suscitava. Nada poderia proteger o homem primitivo nessas catastróficas circunstâncias.
            Devido ao fato de nossa mente ser bastante plástica o suficiente a permitir que a imaginação construísse e alimentasse os quadros mais variados, ela foi também colaborando para a formação de um panteão de forças para as quais dirigia os rogos de proteção, na falta dos mais elementares conhecimentos.
            Dai a pouco e pouco para o aparecimento de deuses, protetores e adejandos, em milhares de anos, foi uma circunstância mais que natural.  Decorrentes de alguns pseudo sucessos, rituais os mais diversos e bem mais tarde, surgiram de maneira natural, as religiões que eram sempre dirigidas pelos personagens mais “cultos” e respeitados.  Com o tempo os aparatos individuais foram cedendo a grupos mais organizados, que à medida do tempo foram se estruturando e sofisticando seu funcionamento, até os grandes e complexos aparatos religiosos da modernidade, tendentes a organizar,  estruturar e dirigir as mentes humanas. Assim, a mente humana ficou refém de um sistema de pensamento que, por sua peculiaridade, não deixava o homem a direção de sua vida.
            Implantou-se uma hierarquia de poderes, até o aparecimento de uma figura a que se denominou chamar de Deus, que a tudo teria criado e, de fora do sistema criado, dirigia tudo com sapiência total.
            Bom, neste momento podemos dizer que a vida que teria aparecido na face da terra há 400 milhões de anos, enfim, tinha um criador. Está, portanto, criada a vida. De onde?. Como? Com que finalidade? Boas perguntas que ainda não foram respondidas. Não têm condições de serem respondias ainda hoje, com o arsenal de conhecimentos que possuímos. Então, vamos cruzar os braços e esperar?
            Que leitor dê sua resposta, considerando que nossa humanidade não está nem um pouco preocupada com o tema. Já o tem por respondido, quando se alcançou a descoberta de Deus. E a dúvida? Ninguém exercitou o seu direito a duvidar que quaisquer dos conteúdos relatados são mentirosos, invenções de mentes impressionáveis e até propositadamente arrogantes, a ponto de inventar tão fantasiosa história?
            Também não encontrei muito no pouco contraditório espalhado por aí. Apenas, me parece uns poucos Ateus firmemente convictos de que tudo isso é balela. Mas você já gastou alguns segundos do seu tempo para pensar no caso? Mesmo que não tenha tido essa oportunidade, eu o convido a pensar agora? E se tudo isso não é uma grande invenção para apenas dominar a minha mente e dirigi-la para aquilo que querem que pensem, falem e levem a ações que no fundo não são as do meu melhor interesse?
12.08.2019
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sexta-feira, 9 de agosto de 2019


MITO, RELIGIÃO E MAGIA PRIMITIVAS



              A atividade humana sempre esteve relacionada com uma certa visão do mundo, visão esta que, aparentemente, nunca se limitou ao mundo sensível. O ser humano conserva de maneira permanente a noção ou a obsessão de um prolongamento do seu universo, de um mundo a que chama de sobrenatural.
              Daí originou-se a Mitologia da antigüidade, todos os mitos que se encontram entre os povos chamados primitivos e cuja explicação poderá ser encontrada através de uma infinidade de publicações. Esses mitos, muitas vezes se nos afiguram estranhos, desconcertantes, ou mesmo de uma ingenuidade infantil. Entretanto, a nossa preocupação é alcançar, através de suas excentricidades, o conteúdo humano que encerram.
              Foi por intermédio dos mitos que, ao longo dos séculos, milhões de almas se reanimaram e exaltaram. Eles fazem parte da espiritualidade humana e são a fonte de inspiração de obras poéticas e artísticas. O mito é considerado a “explicação pelo sobrenatural”.
              Os primitivos, longe de serem espíritos meramente positivos e práticos, possuíam uma faculdade de percepção distinta do comum e seu pensamento impermeável à experiência nos moldes em que a aceitamos. O mito, antes de tudo, é uma forma de vida. O primitivo acredita captar as realidades do além numa experiência imediata, onde sentimentos e emoções desempenham papel predominante. A mentalidade primitiva ou pensamento mítico representa um grau na evolução própria do homem das sociedades antigas, presente em todo espírito humano e que a mentalidade positiva nunca chega a eliminar.
              O mito é diferente da religião e nem toda religião é mitológica, como querem alguns. Contudo, a religião é, essencialmente, um conjunto de crenças e de práticas que advoga a noção de um mundo sobrenatural, simultaneamente, um esforço no sentido de entrar em contato com ele. O religioso é o “sagrado”, o que é separado do profano, por obrigações ritualisticamente próprias.
              Mitos são criações tradicionais e lendárias que procuram, para o povo antigo, explicar certos fatos apelando para o sobrenatural, racionalmente não compreendido. Mitologia designa, não só o conjunto de mitos imaginados por um povo, como também o estudo deles. Entre todas as mitologias, por uma repercussão na arte, na literatura, na arquitetura, escultura, a que nos chega com mais importância é a mitologia grega. O conhecimento dessa mitologia faz parte de toda a cultura ocidental. Menos conhecida, porém com o mesmo valor para a raça humana está a mitologia oriental, em que se sobressaem a Índia e a China.
              O homem, em si mesmo, tem sempre, desde épocas as mais distantes, o mundo como um conjunto de mistérios, e ele tem procurado incansavelmente compreender e nesse sentido, dado a esses aspectos inúmeras interpretações.
              Entre esses mistérios aparentemente insolúveis estão o raio, o trovão, o movimento das nuvens, a queda da chuva e das neves, o ruído do vento, o amanhecer e o anoitecer, as fases da lua, a marcha dos astros, o vôo dos pássaros, o nado dos peixes, o florescer das plantas, a vida e contato sexual dos animais, enfim, tudo que pode ser percebido pelos sentidos.
              O progresso habitou com o tempo nosso planeta, apesar disso, o homem continua vítima de numerosas fantasias e superstições, encobertas de resplandecentes roupagens religiosas, filosóficas e psicológicas. Desse modo, continua ele a desesperar-se diante de enigmas como os da origem do universo, de como foi ele criado, de onde procede a vida, como surgiu a raça humana e todas as conseqüências do labor insolúvel da mente humana.
              Quando o ser humano ainda era só, nas cavernas espalhadas pelo globo, era tão só, que quaisquer que fossem as manifestações dos elementos da natureza, tal fato o intimidava. Tudo indicava a ele um poder maior, com maiores realizações, sem qualquer possibilidade de domínio por parte dele. Daí começar esse homem a reverenciar esses aspectos e dar a eles a sensação de divindade. Nasceu aí a primeira tentativa de compreender a natureza. Relacionava sempre suas atividades às manifestações naturais, como por exemplo, que ele tomasse iniciativa de qualquer prática para uma satisfação pessoal e logo após um desses aspectos da natureza fosse percebido – e sempre o era – tomava como indício de alguma mensagem divina. Dentre as manifestações da natureza, a que mais lhe chamava a atenção era o fogo produzido por um trovão, raio ou a incandescência dos vulcões. Era um poder terrível nas mãos de um deus vingador. Exercia grandes pressões sobre a mente humana. Endeusando essas manifestações, criou ele símbolos de significado geral para épocas em que ele já vivia em sociedade, ou pelo menos em contato uns com os outros de modo mais permanente, porque todos tinham mais ou menos as mesmas idéias a respeito do fato, constituindo assim uma crença única que provocava as mesmas reações.
              Perdendo-se na noite dos tempos, essas reações e concepções formam na trilha da evolução o sentimento religioso e a necessidade de simbolizar a sua identidade a esse sentimento. A crença, sem sombra de dúvida, engloba o problema central da análise do espírito.
              Analisando o problema de frente, podemos perceber que o conteúdo da vida intelectual consiste em crenças através do próprio raciocínio. Certas crenças podem nos trazer tanto o conhecimento positivo como o negativo. São, portanto, veículos de verdade e de falsidade.
Naturalmente, sabemos que as palavras e os símbolos são caracterizados pelo significado que apresentam; as crenças caracterizam-se pela maior ou menor afinidade que o indivíduo com enlevo se lançará a elas.
              A religião é um aspecto universal de comportamento e, como não poderia deixar de ser, de cultura, uma vez que desde os primórdios, o homem se tornou fundamentalmente um ser religioso. Todas as culturas que são do conhecimento quer da história, arqueologia e mesmo de todo o arcabouço da antropologia, inclui a existência de um conjunto bem organizado de crenças, que representam, para o povo em questão, respostas efetivas às inquirições da vida e também provêem a organização e a ação apropriada das crenças.
              A ciência preocupa-se tão-somente em descrever e procurar proposições generalizadas sobre a religião e as crenças, sem, contudo avaliar um sistema religioso particular, mas em sentido universal. As técnicas para isso aplicadas não conseguirão facilmente compreender plenamente, por exemplo, os êxtases de um santo ou as agonias de um pecador, quando na verdade nem em suas existências acreditam.
              O termo “religião” significa, em análise mais profunda, a ligação do “Si Mesmo Absoluto” “ao Si Mesmo Relativo”, promovido incessantemente pelo indivíduo, uma vez tratar-se de uma aspiração inerente ao próprio ser. Considerada do ponto de vista puramente sociológico, interpreta-se num sentimento de vinculação, de obrigatoriedade a certos procedimentos e padrões específicos, diferindo a atividade religiosa de atitude supersticiosa e de todas as formas de magia. Do ponto de vista antropológico, a religião é parte essencial da cultura de qualquer povo. Os registros arqueológicos a respeito da religião dependem, na maioria dos casos, dos artefatos em que é objetivada a crença. Daí verifica-se que já o homem de Neandertal enterrava seus mortos, ligando tal fato a um sistema de crenças.
              Os antropólogos e diversos outros estudiosos acreditam que a religião e as teorias existentes e distintas sobre a matéria, foram originadas de um conjunto de crenças primitivas, como fatores fundamentais para que o homem pudesse compreender os sonhos, as alucinações, o sono e os fenômenos da natureza, dos quais não tinha participação ativamente consciente. Acreditava ele numa personalidade interior, procurando entender a concepção animista de seres espirituais, incluindo animais, plantas e os objetos inanimados.
              Vemos, portanto, que tais teorias se escudam na forma de raciocínio intelectivo usado em tais procedimentos, implicando ainda a esse respeito o animismo (pré-animismo), no sentido de admiração diante do desconhecido, criando dessa forma a idéia de uma força espiritual, em que tudo era animado por uma força realmente vital.
              O culto dos “fantasmas”, originou-se do culto dos ancestrais heróicos comparados aos deuses, combinando através desse mesmo culto o medo de fantasma ou sombra.
              A magia era produto do julgamento da existência de forças caprichosas desconhecidas, com poderes superiores aos seus e das quais se aproximava também pelo culto.
              O Fetichismo – disseminado no folclorismo – onde o homem atribuía qualidades espirituais ao Sol, à Lua, às estrelas e outros objetos da Natureza, num gesto do que podemos chamar de paganismo psíquico, compõe uma tríade que possibilita iniciar-se um processo de pesquisa.
              Dentre as teorias defendidas por estudiosos, figuram a do instinto religioso: do Deus altíssimo, da Projeção da Experiência infantil, do Rei-Deus Morto, Vício de Linguagem, etc. Alguns historiadores assinalam que não existem provas da existência de algumas das teorias acima relatadas. Outros escrevem que o homem primitivo tinha respeito e admiração pelo desconhecido. Outros, entretanto, falam enfaticamente em provas tais como de que o homem de Cro-Magnon tinha idéias muito evoluídas sobre um mundo de forças invisíveis. Preocupava-se mais com cuidados aos corpos dos defuntos que o homem de Neandertal, pintando os cadáveres, cruzando-lhes os braços sobre o peito e depositando nas sepulturas pingentes, colares, armas e instrumentos ricamente lavrados. Possuía um complicado sistema de magia-simpática, com a finalidade de aumentar a sua provisão de alimentos. Tal prática tem fundamento no princípio de que, ao imitarmos um resultado desejado, produziremos automaticamente esse resultado.
              Colocando esse princípio em prática, fez pinturas nas paredes das suas cavernas, representando a captura de renas na caça, ou esculpiu imagens de animais com o flanco trespassado por azagaias, modelou bizões ou mamutes em argila e depois mutilou-os com golpes de dardo. Essas representações visavam unicamente facilitar a efetivação do seu desejo, o que vinha concorrer para o sucesso do caçador, tornando assim mais fácil sua luta pela existência. Não se sabe ao certo ainda se encantamentos e cerimônias acompanharam as execuções dessas pinturas e imagens, julgando-se ainda provável que esse trabalho fosse realizado enquanto a verdadeira caçada estivesse em andamento.
              Já no período neolítico, a religião e a crença assumiram uma forma mais complexa, determinada pela própria evolução e expansão dos conhecimentos herdados de épocas anteriores. Torna-se de toda forma, a expressão de um sentimento de dependência em face de um poder exterior a nós mesmos, poder cuja natureza pode se qualificar de espiritual ou moral.
              Os antropólogos modernos colocam em destaque o fato de que a religião primitiva não era bem uma questão de crença como de ritos. Os ritos, na maioria das vezes primeiro, depois, os dogmas e teologias foram o fruto de raciocínio posterior.
              O homem primitivo dependia sempre da natureza das sucessivas e regulares estações das chuvas nas ocasiões normais, da frutificação regular e da sistemática reprodução dos animais. Para ele esses fatos não ocorriam a menos que ele lançasse mão de certos ritos e sacrifícios. Daí a instituição de certas cerimônias com finalidade de concorrer na participação ativa dos diversos trabalhos feitos pela natureza. As danças rituais dos índios americanos muitas vezes apresentam uma significação análoga. Para essas cerimônias utilizavam-se da vestimenta de peles de animais e imitavam os hábitos e atividades de uma espécie definida e da qual dependiam para a obtenção do que necessitavam.
              Não podemos nos esquecer, entretanto, do elemento medo, cuja presença se manifestava na religião primitiva. O homem selvagem temia e teme a doença e a morte, a fome, a seca, as tempestades, os espíritos dos mortos e os animais que ele próprio matou. Todas as calamidades e desgraças são prenúncios de mais alguma coisa ruim que está por vir, a menos que tal influência possa ser interrompida. Para tanto, os encantamentos, sortilégios e outros recursos de poder mágico tornam-se de grande necessidade. Presume-se, daí, que grande parte da religião primitiva consiste em profilaxia ritualística para afastar o mal. Exemplificando: poucos selvagens, mesmo hoje, se arriscariam a atravessar a nado um rio perigoso sem primeiro procurar ganhar o seu beneplácito por meio de orações e encantamentos. O esquimó que mata um urso polar deve presenteá-lo com armas e utensílios que lhe sejam agradáveis; se o urso é fêmea, a dádiva consiste em facas de uso feminino e em estojos de agulhas. Isto é necessário porque virá apaziguar a cólera da alma do animal morto e evitar que ela opere malefícios.
              Entre a religião e crenças que acabamos de descrever e as religiões teológicas de hoje (judaísmo, cristianismo e as conseqüentes) existem ainda algumas conexões remanescentes.
              Não só os homens daquele período, como a maioria dos de hoje ainda acham-se num estágio pré-lógico, não sabendo como definir determinadas proposições intelectivas, sem condições de distinção entre o “natural” e o “sobrenatural”, não reconhecendo de modo nenhum os chamados milagres, porque considerando-se grandes em tudo, para eles nada é impossível ou absurdo.
               Depois dessa fase, vemos que esses conceitos se transformaram numa religião teológica, em que o pensamento e a crença são devotados a deuses benévolos e já há uma tentativa de explicação filosófica do universo. Ao que tudo indica, algumas tribos idearam que seres sobrenaturais, sob forma humana, estariam em condições de ouvir e atender às súplicas dos viventes em maior grau do que os espíritos desencarnados ou fantasmas. Com o burilamento desse raciocínio, veio a natural evolução dos conceitos, até atingir um estado em que a moral, a retidão e a justiça fazem parte de uma divindade bondosa e única.
              Nem por isso o primitivo ficou isolado no passado. Em nosso país, os ritos afro-brasileiros denotam sua constante presença e influência. Mesmo algumas religiões, hoje, deixam entrever de alguma forma, perseverante preocupação de seus adeptos em formalizar uma série de ritos com as mais variadas finalidades, inclusive aquelas do mais alto interesse dos povos primitivos: bons negócios, afastamento de males, felicidade matrimonial, remissão de culpas, etc.
              A magia da umbanda, quimbanda, candomblé, mais generalizada em nosso meio, traz de longa data a sedimentação conjuntural dos princípios que formam o início dos padrões de pensamento e comportamento que os séculos não conseguiram apagar.
              Enquanto o homem não se aperceber de que todas as verdadeiras realidades do universo fazem parte de seu todo existencial e que entre ele e o todo existe uma linha fronteiriça que pode ser tocada, não estará de nenhuma forma caminhando para uma espiritualidade pura, isenta de influências, que de maneira alguma deveriam perturbar a sua divindade que lhe pertence por direito.
04.08.2019