segunda-feira, 24 de junho de 2019



O QUE ESTAMOS FAZENDO AQUI ?


Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo


            Esse é um assunto que a poucos interessa. Em que pese quantos anos vivemos, nunca consideramos o que viemos fazer aqui neste planeta e neste momento histórico dos diversos povos da terra.
            Lutamos de todas as formas possíveis seguindo um roteiro que a sociedade, a religião e nossos pais nos acenam, sem considerar a sua eficácia, seja para nós pessoalmente, como para os demais entes deste planeta.
            Temos uma dura infância, uma escolaridade penosa, uma subsistência difícil ou não, no entanto trabalhosa, no afã de uma realização social quase obrigatória, vivendo o regime do TER, obrigatoriamente tendo que vencer na vida. Não sabemos realisticamente, onde isso vai dar. Não temos a menor idéia do que o destino preparou para nós, afim de podermos enfrentar a vida.
            Já dizia o grande filósofo grego Sócrates: “uma vida não examinada é uma vida não vivida. Por acaso alguém costuma fazer isso.
            Somos cheios de crença, entupidos de mentiras ao longo de toda a nossa vida. E engraçado, nem percebemos. Somos como uma onda que vagueia a esmo, até que um dia já velhos e talvez alquebrados, começamos a desconfiar que fomos iludidos em toda a nossa trajetória.
            Já na meia idade, pessoas que exerceram o magistério superior, começam a perceber que estão a cada ano recebendo alunos na faixa pouco antes da aposentadoria e já com outra graduação feita anteriormente. Aí perguntamos o porque de voltar á faculdade e as respostas mais constantes são: a) não gostei do que fiz antes, agora vou fazer algo de que eu realmente gosto; b) já gastei a minha vocação e agora vou partir para outra experiência para não ficar sem nada para fazer; c) na primeira titulação, segui os conselhos dos meus pais, agora vou colocar minhas idéias em prática.
            Isso entre outras respostas possíveis. Poucas são as pessoas que realmente sabem o que querem da vida. Parece que apenas algumas que nasceram já destinadas, facilmente conseguem se colocar onde deveriam.
            E quanto mais velhos começamos a perceber isso, entramos num processo de tristeza infindável, melancolia e quase sempre em depressão. “Não aproveitei a vida”. E agora, só a morte me espera.
            Precisamos, com urgência, agir de forma a influenciar melhor esses novos habitantes do planeta. Contar a eles a verdade por trás de uma encarnação. Ninguém nasce impunemente. Todos tem uma missão a cumprir. Se ela não é cumprida, perdemos uma oportunidade dada. Só poderá ser recuperada em outra existência.
            Em outra existência, começamos onde paramos anteriormente. As informações têm que ser fornecidas aqui e agora, para que no momento atual haja oportunidade de adequação a um processo consciente, capaz de edificar um bom destino, não só para si mesmo, mas também para a sociedade como um todo.
            Que tal começarmos a pensar em tal possibilidade? Como não seria bom para um mundo do futuro, termos uma sociedade diferente.
            Pensemos nisso.....não custa.

segunda-feira, 17 de junho de 2019


A VERDADEIRA REALIDADE DAS COISAS

Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo

            Vivemos hoje em um mundo de múltiplas turbulências, que nos faz titubear naquilo que acreditamos ser verdadeiro.
            Para nós do mundo ocidental, todo o nosso campo de percepção está eivado de objetividade, da qual dependemos, e cuja realidade aceitamos sem nenhuma crítica. Há campos do conhecimento que, ou por ignorância ou por preguiça em pesquisar, desconhecemos, mas sobre o qual em nosso cotidiano, baseamos os nossos julgamentos e todas as nossas ações.
            Se vagarmos pelo mundo oriental, principalmente para o campo budista tibetano, seja ele mahayana[1] ou theravada[2], adquiriremos conceitos diferentes daqueles que usamos para avaliar a objetividade de nossas experiências.
            Por exemplo, uma das supremas sabedorias desse tipo de conhecimento nos ensina que a impermanência de coisas e eventos é suprema no universo. Buda nos legou os ensinamentos essenciais do budismo que são as Quatro Nobres Verdades, muito utilizadas como citações um tanto negligentes por nós do ocidente que são:
  1. A Verdade da Existência do Sofrimento (impermanência, insatisfatoriedade e impessoalidade;
  2. A Verdade da Causa ou Origem do Sofrimento (desejo, ambição e anseio);
  3. A Verdade da Cessação do Sofrimento ((extinção do desejo, da ambição, do anseio), e;
  4. O Caminho que Conduz À Extinção do Sofrimento (a nobre senda óctupla ou caminho do meio).

Esse composto de conceitos é o que primordialmente nos faz viver uma existência insatisfatória na atualidade.
Enquanto não conseguirmos mudar a nossa teoria de base da vida, mudando nossos conceitos sobre o que é a vida, sobre a morte, e nossa missão enquanto habitantes desse planeta, não conseguiremos atingir uma meta de real felicidade, em busca da qual perpetramos todas as ações, menos as que nos levam a ela.
Ao olharmos a vida e a vivermos nesse mar de materialismo e consumismo desenfreado, não conseguiremos atingir nenhum objetivo válido. Usamos conceitos por demais inválidos, e temos preconceitos demais para julgar nossos atos e o dos outros, procurando sempre uma justificativa válida para nossas tresloucadas atitudes.
O mais interessante é que (99% da população não sabe disso), os conhecimentos veiculados pela Física Quântica, formulam uma teoria de base muito parecida com a que é utilizada pelo Budismo Tibetano. Ou seja, no mundo subatômico só existem eventos de probabilidade e não de realidade, que transformam nossas realidades físicas em entidades impermanentes e, portanto, não existentes em si. 
Diante de tais revelações vindas de conhecimentos tão distantes no tempo (Budismo existindo a partir do séc. VI antes de Cristo e Física Quântica formulada no início do séc. XX ficamos realmente estarrecidos em como as verdades fundamentais do ser humano não sofrem mutações no tempo, justamente porque são verdades fundamentais.
Valeria então, a meu ver, muito a pena, que os seres sencientes desse planeta, possam investigar as verdadeiras realidades da vida, ao invés de agirem somente com base nas teorias e crenças que lhe foram impingidas quer pela família, pelas escolas, pelas religiões e ou pela sociedade. No fim vão verificar estupefatos que estão simplesmente agindo contra si próprios, na procura da felicidade e tranqüilidade fora de si mesmos, quando o nosso universo interno é muito mais rico de satisfação do que do lado de fora. 
E eu aqui pensando que tudo que vejo existe....













































domingo, 9 de junho de 2019


VIDA SIMPLES, VIDA SAUDÁVEL

Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo

            Certa feita, o grande filósofo grego Sócrates encontrou-se na rua com seu discípulo Filón e seguindo juntos numa conversa animada, depararam com o mercado de Atenas (o mercado de Atenas daquela época – séc IV a.C. era como uma feira de rua de qualquer bairro moderno das grandes cidades), quando Filón diz a Sócrates: se me permite mestre, passarei pelo marcado para realizar algumas pequenas compras, mas gostaria de continuar em sua companhia.
            Sócrates prontamente acedeu e passou a acompanhar Filón em sua faina mercadista. Das pequenas compras que Filón disse que ia fazer, só comprou de um tudo. Resultado: chegou ao outro lado do mercado com as mãos cheias. Sócrates tendo acompanhado toda essa trajetória, ao saírem do mercado diz a Filón: Vistes de quanta coisa eu não preciso?
            Sócrates, o homem mais sábio do mundo antigo (no meu entender, de todo o mundo até agora), não precisava de nada que foi comprado por Filón, nem tampouco de tudo o que estivera exposto no mercado.
            Esse artigo pretende fazer um paralelo entre as necessidades de Sócrates e as nossas, guardadas as devidas proporções. Começamos fazendo uma pergunta clássica para essa ocasião: Nós precisamos de tudo o que adquirimos? Por acaso conseguimos usar em curto espaço de tempo tudo que temos?
            Vou começar essa discussão, citando um trecho de Erich Fromm em Ter ou Ser?[1]:
            “A alternativa ter contra ser não fala imediatamente ao senso comum. Ao que tudo indica ter é uma função normal de nossa vida: a fim de viver nós devemos ter coisas. Além do mais, devemos ter coisas a fim de desfrutá-las. Numa cultura em que meta suprema é ter – e ter cada vez mais – e na qual se pode falar de alguém como “valendo um milhão de dólares”, como poderá haver alternativa entre ter e ser? Pelo contrário, tem-se a impressão de que a própria essência de ser é ter: de que se alguém nada tem, não é”.
            Devo neste ponto salientar que grandes mestres da vida fizeram da alternativa entre ter e ser a questão central de seus respectivos sistemas. Exemplificando: Buda ensina que, para chegarmos ao mais elevado estágio do desenvolvimento humano, não devemos ansiar pelas posses e Jesus ensina: “Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se, ou a causar dano a si mesmo (Lucas, 9:24-25). Mestre Eckhart, místico cristão do séc. XIII ensinava que ter nada e tornar-se aberto e vazio, e não colocar o eu no centro, é a condição para conseguir riqueza e robustez espiritual.
            Muito embora os exemplos acima estejam fora do alcance do homem comum, todos nos servem como exemplo para uma útil meditação. Via de regra, aqueles que muito têem, possuem uma natural paranóia da possibilidade da perda. Os que nada têem, normalmente invejam o detentor de bens e muitos até partem para a violência no afã de obtê-los à força.
            Devemos estar livres de nossas próprias coisas e de nossas ações. Isso não significa que não devemos ter posses ou que nada façamos; significa que não devemos estar apegados, atados, encadeados ao que possuímos, ao que temos, e nem mesmo a Deus, no dizer de Eckhart. Ainda me utilizando da filosofia de Eckhart, nosso alvo humano é nos livrarmos das peias do apego ao eu, egocentricidade, isto é, do modo ter de existência, a fim de chegarmos ao pleno ser.
            Consumir é uma forma de ter, e talvez a mais importante da atual sociedade abastada industrial. Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia ansiedade, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se consuma cada vez mais, porque o consumo anterior logo perde a sua característica de satisfazer. Os consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: eu sou = o que tenho e o que consumo.
            Podemos facilmente observar que as pessoas que vivem no modo exclusivamente ter não são plenamente felizes e vivem preocupadas em aumentar suas posses e com medo de perdê-las.

10.06.2019
           




[1] Fromm, Erich. Ter ou Ser? Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1980.