segunda-feira, 18 de março de 2013

VIDA SIMPLES, VIDA SAUDÁVEL Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo http://www.pedroangueth.blogspot.com Certa feita, o grande filósofo grego Sócrates encontrou-se na rua com seu discípulo Filón e seguindo juntos numa conversa animada, depararam com o mercado de Atenas (o mercado de Atenas daquela época – séc IV a.C. era como uma feira de rua de qualquer bairro moderno das grandes cidades), quando Filón diz a Sócrates: se me permite mestre, passarei pelo marcado para realizar algumas pequenas compras, mas gostaria de continuar em sua companhia. Sócrates prontamente acedeu e passou a acompanhar Filón em sua faina mercadista. Das pequenas compras que Filón disse que ia fazer, só comprou de um tudo. Resultado: chegou ao outro lado do mercado com as mãos cheias. Sócrates tendo acompanhado toda essa trajetória, ao saírem do mercado diz a Filón: Vistes de quanta coisa eu não preciso? Sócrates, o homem mais sábio do mundo antigo (no meu entender, de todo o mundo até agora), não precisava de nada que foi comprado por Filón, nem tampouco de tudo o que estivera exposto no mercado. Esse artigo pretende fazer um paralelo entre as necessidades de Sócrates e as nossas, guardadas as devidas proporções. Começamos fazendo uma pergunta clássica para essa ocasião: Nós precisamos de tudo o que adquirimos? Por acaso conseguimos usar em curto espaço de tempo tudo que temos? Vou começar essa discussão, citando um trecho de Erich Fromm em Ter ou Ser? : “A alternativa ter contra ser não fala imediatamente ao senso comum. Ao que tudo indica ter é uma função normal de nossa vida: a fim de viver nós devemos ter coisas. Além do mais, devemos ter coisas a fim de desfrutá-las. Numa cultura em que meta suprema é ter – e ter cada vez mais – e na qual se pode falar de alguém como “valendo um milhão de dólares”, como poderá haver alternativa entre ter e ser? Pelo contrário, tem-se a impressão de que a própria essência de ser é ter: de que se alguém nada tem, não é”. Devo neste ponto salientar que grandes mestres da vida fizeram da alternativa entre ter e ser a questão central de seus respectivos sistemas. Exemplificando: Buda ensina que, para chegarmos ao mais elevado estágio do desenvolvimento humano, não devemos ansiar pelas posses e Jesus ensina: “Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se, ou a causar dano a si mesmo (Lucas, 9:24-25). Mestre Eckhart, místico cristão do séc. XIII ensinava que ter nada e tornar-se aberto e vazio, e não colocar o eu no centro, é a condição para conseguir riqueza e robustez espiritual. Muito embora os exemplos acima estejam fora do alcance do homem comum, todos nos servem como exemplo para uma útil meditação. Via de regra, aqueles que muito têem, possuem uma natural paranóia da possibilidade da perda. Os que nada têem, normalmente invejam o detentor de bens e muitos até partem para a violência no afã de obtê-los à força. Devemos estar livres de nossas próprias coisas e de nossas ações. Isso não significa que não devemos ter posses ou que nada façamos; significa que não devemos estar apegados, atados, encadeados ao que possuímos, ao que temos, e nem mesmo a Deus, no dizer de Eckhart. Ainda me utilizando da filosofia de Eckhart, nosso alvo humano é nos livrarmos das peias do apego ao eu, egocentricidade, isto é, do modo ter de existência, a fim de chegarmos ao pleno ser. Consumir é uma forma de ter, e talvez a mais importante da atual sociedade abastada industrial. Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia ansiedade, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se consuma cada vez mais, porque o consumo anterior logo perde a sua característica de satisfazer. Os consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: eu sou = o que tenho e o que consumo. Podemos facilmente observar que as pessoas que vivem no modo exclusivamente ter não são plenamente felizes e vivem preocupadas em aumentar suas posses e com medo de perdê-las. E eu aqui pensando em como é bom e tranqüilo viver uma vida simples.

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