segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PSICANÁLISE, de onde, para quem.

PSICANÁLISE: De onde, para quem.

Prof. Msc, FRC, Psic. Pedro Henriques Angueth de Araújo
http//www.pedroangueth.blogspot.com


Não seria possível a qualquer ser humano, desconhecer que a Psicanálise é uma construção de autoria de Sigmund Freud. É tão identificada a origem dessa construção, pois ela levou 50 (cinqüenta) anos para fechar-se sobre si mesma com o advento da morte de Freud.
Guiado por uma forte intuição, senso de observação e arguta disciplina cientifica, nunca teve medo de mudar seus modos e métodos de investigação. Também teve a humildade para aprender. Seja com Breur na Salpetrerie e com aulas de Charcot em Paris, ou com seu confidente Fliess, procurou assimilar tudo quanto pôde, para depois tudo modificar e integrar num todo intelegível. Além do mais não tinha receio de recuar e modificar suas teorias, como o fez, por exemplo, com a Teoria da Sedução.
Também teve coragem de romper com parceiros e colaboradores, quando esses desviaram-se de suas idéias, como aconteceu com Jung, Rank, Reich, Ferenczi, Adler,. Tausk e outros. Queria manter na integralidade suas descobertas e suas construções.
Mas alguns de seus construtos principais não puderam ser rechaçados por nenhum de seus seguidores. Tanto a primeira tópica: inconsciente, pré-consciente e consciente, como a segunda: id, ego e superego, iriam se tornar de emprego universal, assim como a técnica da livre associação, seja ela verbal ou simbólica, a análise dos sonhos e a sexualidade infantil.
Desse modo, estava fechado o círculo a que não se poderia fugir, face às evidências de sua realidade. Pensando bem, a época dessas descobertas era, sem dúvida, a mais propícia para a sua emergência.
Histórica e sociologicamente analisada, a época era de repressão: 1. sexual e social nas mulheres, que não podiam usufruir dos prazeres naturais do sexo, pelos tabus vigentes; nem dos prazeres sociais, pois as mesmas não tinham liberdade para tal, submetidas que estavam a pais e a maridos. Além disso, havia subterraneamente muitos casos de abusos sexuais dentro das próprias famílias; 2. aos homens, importava casar cedo para usufruir do sexo sem problemas, pois naquela época grassava um surto de sífilis, cuja doença não tinha cura e incapacitava o homem pelo resto de seus dias. Essa doença era comumente transmitida pelas mulheres de vida fácil; 3. toda a sociedade estava submetida a um regime político autoritário, contra o qual não se admitia argumentação.
No entremeio de tudo isso, explodia a 1ª Guerra Mundial – 1914-1918, tendo nela lutado, um dos filhos de Freud.
Tudo isso formava um quadro fértil para a percepção de traumas, recalques, castrações, neuroses de vários matizes, fobias, agorafobias, bem como várias outras afecções da psique.
Enfeixado tudo isso, e no meio de tudo isso, derivada das reuniões das quartas-feiras, o círculo em volta Freud resolve fundar a IPA – International Psicanalyse Association (Associação Internacional de Psicanálise), que de ora em diante cuidaria da legitimidade e da transmissão da teoria e da técnica psicanalítica.
No entanto, como já se disse anteriormente, vários companheiros de Freud desertaram, por um motivo ou outro, (não cabe aqui discutir as razões individuais nem tampouco combatê-las), estabelecendo cada um “per si” sua própria teoria (sempre de alguma forma derivada de Freud), como sua prática. Quebrava-se primeiramente com Theodore Reick, a primazia do tratamento feito somente por médicos (vide texto do próprio Freud sobre Análise Leiga, Vol XX de suas Obras Completas) e posteriormente com Melanie Klein, a psicanálise original sofreu algumas mutações, assumindo o colorido conveniente para cada situação, sem no entretanto, fugir da dogmática principal.
Talvez os autores de teorias mais proficuamente mutantes foram: Ferenczi, Melanie Klein, Winnicott, Wilpert R. Bion, Henri Kohut, Lacan, Didier Anzieu e A. Green, só para falar de uns poucos e de alguns que estiveram mais perto de Freud, com relação ao tempo. O fato é que a Psicanálise ganhou o mundo livre e se instalou definitivamente entre nós.
A psicanálise brasileira e latino-americana data de em torno de 1950. De lá para cá, tem refletido com as mesmas nuances, o pensamento Inglês ou Francês, através de seus teóricos ou da formação especifica de cada linha.
No entanto, nesses últimos 60 (sessenta) anos, a sociedade global sofreu a mais marcante de suas mutações ao longo da história. O leste europeu se fechou por 70 (setenta) anos para depois de abrir com um estrondo político, econômico e social de grandes proporções, obrigando a Alemanha a uma mudança radical e aos outros países uma reconstrução de base; a era industrial instalou-se definitivamente e posteriormente no mesmo sentido a era tecnológica, dando ensejo ao aparecimento inevitável da globalização.
No Brasil tivemos o maior e mais rápido índice de urbanização do mundo, com o quase abandono do meio rural, pelas famílias que ainda produziam alguma coisa e o conseqüente inchaço das cidades; as mulheres fizeram (como de resto em todo o globo), uma revolução silenciosa e afinal adquiriram sua independência econômica, financeira e sexual, e até 1989, estivemos constantemente sob a ameaça de uma 3ª (terceira) guerra mundial pela polarização das forças políticas e geográficas, mantida pela guerra fria entre os blocos ocidental e oriental; a Iugoslávia acabou de maneira sangrenta, gerando depois conflitos étnicos de grandes proporções; todos os países comunistas se democratizaram e se ocidentalizaram, com a execessão da China, Coréia do Norte e Cuba.
A China para sobreviver inventou um regime comunista misto que está conseguindo levar não se sabe por quanto tempo; a Coréia do Norte está entrincheirada, dando trabalho ao resto do mundo, não se sabe por quanto tempo, assim como Cuba, esta, obrigando sua população a uma vida miserável; os conflitos do Oriente Médio, nunca foram e não sabe se serão resolvidos a contento, porque os Estados Unidos o instiga e o governo Bush resolveu sem mais nem menos, ser o juiz do mundo em causa própria.
Diante desse quadro, como fica a psicanálise?
Por incrível que nos pareça, a psicanálise ficou bem. Hoje em quase todas as Instituições de Ensino Superior que se preze, há quando pouco, um curso de Pós-Graduação em Teorias Psicanalíticas Aplicadas. Vários outros cursos de formação psicanalítica foram instituídos, proporcionando a quantos queiram o conhecimento mais aprofundado do assunto, e para aqueles vocacionados uma formação variada que os testará em sua nova atividades profissional, seja ela docente ou no consultório.
As mulheres como já vimos antes ganharam também um espaço precioso para o exercício de suas vocações analíticas e estão obtendo o sucesso esperado. Não há literatura sobre o desenvolvimento da humanidade que não mencione a importância da psicanálise no concerto dos avanços identificados.
No entanto, se compararmos as necessidades de conteúdo que eram suficientes para o exercício da profissão até meados do Séc. XX, com as de hoje, verificamos uma ampliação considerável, tendo em vista não só o avanço tecnológico do planeta, bem como o avanço e a diversificação social dos interesses, demandando mais educação e preparação psicológica dos postulantes.
Nesse ínterim, meados do Séc. XX, e início do Séc. XXI, uma brutal transformação aconteceu na sociedade global, fazendo aparecer em pouco tempo, síndromes e situações que antes não eram suscitadas pela maior simplicidade social.
Hoje, para uma boa formação do Psicanalista, há que se atentar para conhecimentos complementares, em Sociologia, Filosofia, Antropologia, História, Psicologia e algumas informações pertinentes em Medicina, Psiquiatria e Neurociências.
Sabemos diante desse enorme conteúdo, que ele não é factível de ser transmitido no bojo dos cursos então existentes, por mais longos que possam ser. Ficarão por suposto, a cargo do autodidatismo de cada profissional.
Diante do exposto, ao mesmo tempo, que se abriu um leque no campo da formação do Psicanalista, vemos por outro lado, que sua competência e sobrevivência enquanto profissional está “ispo facto”, diretamente vinculado a estudos e formação constantes ao longo da vida, não só para entender a evolução da teoria, como as novas formas de abordagem das novas facetas com que nos apresentam os novos comportamentos humanos e seus diversificados problemas. Até porque, recorrem hoje à Psicanálise um grande número de novos pacientes com problemas nunca tratados ou pesquisados.
Além disso, a teoria psicanalítica hoje muito interessa a educadores de todos os matizes e graus de ensino, no afã de tentar compreender algumas atitudes e comportamentos discentes, com o fim de ajudar a dirimir não só conflitos pessoais e grupais, como conseguindo identificar possíveis causas, fazer o encaminhamento aos profissionais competentes em cada caso.
Não há dúvida de que a psicanálise adentrou todos os escaninhos da sociedade moderna, sendo de qualquer maneira útil como instrumento de desalienação e completude existencial dos indivíduos.
Cremos dessa forma ter respondido a questão inicial.

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