segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

AS MISÉRIAS DO SER (Continuação)

3. A MISÉRIA DO INTELECTO

O termo intelectual que muitos jactam-se de possuir, atribui a quem verdadeiramente o tem por imposição de outros ou de si mesmo, um aura de excelência que é no mínimo discutível.
Antes da era tecnológica, era intelectual quem escrevia e publicava belas páginas, ou artistas que produziam belas obras.
Com o advento da era tecnológica, outros tantos talentos humanos ganharam o direito de serem chamados de intelectuais devido à suas visibilidades.
Não vou recorrer a um dicionário para explicitar o que significa o termo intelectual. Vou a um local hoje mais popular: a Internet, através do Google, chegando à página do Wikipédia, que qualquer um pode acessar.

“Um intelectual é uma pessoa que usa o seu "intelecto" para estudar, refletir ou especular acerca de idéias, de modo que este uso do seu intelecto possua uma relevância social e coletiva. A definição do intelectual é realizada, principalmente, por outros intelectuais e acadêmicos. Estes definem o termo segundo seus próprios posicionamentos intelectuais, fato este que complexifica a definição. Autores como Bobbio e Lévy concordam com um aspecto em comum: o intelectual é definido pelo meio social no qual vive ou no qual estabelece sua trajetória social”.

Vamos agora tentar explicitar cada termo importante dessa definição.
Intelecto:
Quando consultamos vários tipos de dicionários vamos encontrar semelhantes definições, assim sendo, vamos escolher para nossa proposição o seguinte:
Intelecto: faculdade congnitiva pela qual as impressões recebidas pelos sentidos se tornam inteligíveis.
Agora, façamos uma pergunta pertinente. Será que todos, indistintamente têm capacidade para tornar intelegível a impressão recebida? Será que essa inteligibilidade não estaria comprometida numa mente não cultivada? Será porquê nem todos interpretam da mesma maneira as impressões recebidas? Onde fica a diferença?

Passemos adiante para melhor esclarecer esse ponto.
Estudar, refletir ou especular acerca de idéias:
Ora, para cumprir todos os dispositivos descritos acima, há uma série de condições prévias impostas, para o completo desfecho da oração destacada. Estudar requer oportunidade, vontade, dispêndio de energia e método, tudo isso arrumado, com o fim de se atingir um objetivo. Refletir já requer um procedimento um pouco mais complicado, pois é uma etapa que exige tomar conhecimento antes de algo, ou conhecer para depois poder refletir. Assim refletir também vai requerer algo específico. Em vários dicionários vamos encontrar:

Pensar maduramente; meditar, reflexionar:
Mais uma vez obtemperamos, para que se possa cumprir esses dispositivos há que se estar mentalmente bem formado e também porque que não, bem informado. Para se pensar maduramente há que se ter um intelecto bem formado e treinado em várias facetas do conhecimento bem como da experiência. O que nos leva a poder especular acerca de idéias que só uma mente rica de imagens pode conceber.
Podemos já num lance de “clarividência” tentar encontrar, mesmo que mentalmente que ser é esse que pode objetivar todos esses atributos. No meu modesto modo de pensar atribuiria o título de intelectual somente a alguém que tivesse as condições plenas de exibir com propriedade os requisitos acima destacados, ainda que a relevância social e coletiva não seja, pelo menos no momento, objeto de consideração.
Esse é um dos pontos capitais que distingue as sociedades avançadas das atrasadas. Somente quando pelo menos a maioria dos componentes de uma nação puder ter a oportunidade de ter as impressões recebidas pelos sentidos de forma inteligível; quando tiverem a oportunidade e a capacidade de estudar, refletir ou especular acerca de idéias; quando puderem pensar maduramente, meditar e reflexionar, aí sim se pode dizer que temos intelectuais suficientes para saber pelo menos o que é uma nação.
Começamos a entender a partir daí o fato de sermos um país atrasado. O nosso atraso não entra tanto na agenda econômica e financeira como quer nos convencer os detentores do poder do estado. O nosso atraso é cultural e intelectual. Temos uma população em torno de 190.000.000 (cento e noventa milhões) de pessoas, dentre as quais mais da metade é analfabeta, semi-analfabeta ou analfabeto funcional. Esse contingente destituido do mínimo para ser tornar verdadeiramente cidadão, compõe hoje uma massa, dentre os quais o chamado “politicamente correto” está recrutando quadros para o seu andamento cotidiano. Esse exército intelectualmente negativo em quase nada contribui para a relevância e desenvolvimento do país.
Vivemos sem dúvida uma era de miséria do intelecto no Brasil. Famílias desestruturadas que nada podem fazer, escola ruim para todos, formação acadêmica deficiente, esse é o quadro em que estamos imersos. Somente num país como o nosso uma pessoa é capaz de navegar por todo um curso acadêmico sem ter lido siquer um único livro.
Chance de studar, refletir ou especular acerca de idéias e pensar maduramente; meditar e reflexionar são atributos que pouquíssimas instituições no Brasil são capazes de fornecer aos membros de nossa sociedade.
Mais uma vez, como já tenho dito anteriormente, o Estado deveria muito se preocupar, através de políticas públicas eficientes e dirigidas a alvos bem definidos (com algum tipo de deficiência) com o fim não só de corrigir o que está ai, mas, e principalmente, proporcionar um avanço contínuo para as mentalidades de seus cidadãos, como forma de, no futuro, poder orgulhar-se das novas posições possíveis a que o país pode chegar no “ranking” mundial entre outras nações.
Sinto que pela minha idade cronológica já vivida, talvez não vá poder presenciar o fato auspicioso de ver o Brasil no concerto das melhores nações para se viver, no entanto não vou me calar por causa disso. Tenho descendentes que merecem uma melhor visão de futuro do que a que temos até agora, pelas circunstâncias de que podemos tomar conhecimento.
(Continua na próxima 2ª feira)

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