segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

AS MISÉRIAS DO SER 5 (Continuação)

5. A MISÉRIA DA POLÍTICA

Compulsando o autorizado Dicionário de Política de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, em seu volume 2, pág. 954, no verbete Política, vamos encontrar o seguinte:

I. O significado clássico e moderno de Política – Derivado a do adjetivo originado de polis (politikós), que significa tudo o que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social, o termo Política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis, sobre as coisas da cidade.
...Na época moderna, o termo perdeu seu significado original, substituído pouco a pouco por outras expressões como “ciência do Estado”, “doutrina do Estado”, “ciência política”, “filosofia política”, etc. passando a ser comumente usado para indicar a atividade ou conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de referência a polis, ou seja, o Estado.
II. ...O conceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligado ao de poder. Este tem sido tradicionalmente definido como “consistente nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou, analogamente, como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados” (Russell). Sendo um desses meios, além do domínio da natureza, o domínio sobre outros homens, o poder é definido por vezes como uma relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao outro a própria vontade e lhe determina, malgrado seu, o comportamento.

Não nos alonguemos muito nos conceitos. Somente por estas poucas definições estamos aptos a ver que o que se faz hoje em termos de Política, enquadra-se tanto nas parcas definições que alinhamos, mas também em outros pressupostos. Fazer política é certamente uma coisa, entretanto, o que fazer com a política é outra. E é nessa segunda acepção que se baseiam nossas idéias neste artigo.
Nem é preciso estudar muito ou ser muito inteligente para interpretar o que nossos políticos em todas as esferas com um tema que de tão importante gerou uma graduação acadêmica denominada Ciência Política. Tenho sérias dúvidas se os nossos políticos – e aqui eu falo de Brasil – sabem o que é política ou se sabem apenas o que fazer com ela.
Sabemos que o exercício do Poder é difícil, trabalhoso, auspicioso para quem sabe exercê-lo, mas que gera o risco de se aproveitar mal as oportunidades pessoais que dá, no sentido de se poder tudo, inclusive de corromper e ser corrompido.
É necessário possuir um caráter ilibado e uma personalidade bem formada para tal. E pelo visto, temos constatado que poucas são as pessoas que possuem tais atributos. Só no ano passado, não houve quase uma semana sequer sem que a imprensa não trouxesse a notícia de um caso de corrupção envolvendo uma ou mais personalidades políticas. E pior, muito pouco se fez no sentido da punibilidade do ato, na mesma medida do fato. Esse é outro reflexo do poder político, a impunibilidade, que no nosso país mostrou a cara, envergonhando a nação e o povo, como que dizendo, e daí, fiz, faço e nada acontece.
E o pior vem aí: muitos destes mesmos políticos são ou reeleitos ou voltam ocupando cargos da maior importância na máquina do governo. Tem solução? Claro que tem, mas quem se habilita a resolver?
Por isso sou contra a campanha que fizeram contra o Tiririca. De tudo que disseram dele, será que um tipo como ele teria condições de se engolfar numa trilha de corrupção? No meu entender, para fazer parte da rede de corrupção há que ser inteligente e até por que não, academicamente bem formado, capaz, por isso mesmo, de enxergar os nichos que os aproveitadores sempre encontram.
No máximo o Tiririca será um zero a esquerda devido ao forte preconceito que contra ele tem sido nutrido desde o início. Mas o outro que já se locupletou do poder e que volta a ele de uma forma ou outra (ninguém quer deixar o poder – Fernando Henrique Cardoso é um herói por isso a meu ver), quer sempre outra chance de fazer mais por si próprio.
Essa é em tese a Miséria da Política. É como uma doença incurável que acomete uma certa classe de pessoas (sem caráter ou com defeito de caráter) como se fosse um câncer. No entanto, esses seres miseráveis não sabem que estão doentes e nem que essa doença não tem cura.
Esses que nomeei como corruptos (e são muitos), talvez faleçam um dia com a chancela dessa terrível doença. Com certeza, no seu obituário não constará qualquer nódoa tirada de sua biografia, mas aqueles que viram sua doença não esquecerão jamais.
E quanto mais ao povo é negada a educação (seja familiar, religiosa, acadêmica ou social) necessária ao entendimento que suas inconscientes opções provocam, mais chances haverá de no futuro ainda bem distante, perdurar essa praga que atrapalha o florescimento da boa semente que poderia vicejar, não fossem as circunstâncias adversas, tão claramente observadas hoje.
(Refletindo na mudança de governo)

(continua na próxima 2ª feira)

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