segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MENSAGEM DAS 2ªS FEIRAS

EDUCAR PARA QUE, NO TERCEIRO MILÊNIO?


O homem sensato se adapta ao mundo; o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a ele. Todo o progresso depende, portanto, do homem insensato. (George Bernardo Shaw – 1885-1950 – Dramaturgo irlandês).

O presente artigo é a reedição de um original escrito por mim na década de 90, antes da promulgação da Lei de Ensino de 1994. Avaliem, portanto, se no tempo decorrido até aqui, algo foi feito a respeito. Façam o seu próprio julgamento.

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Não há dúvida de que o tão anunciado e falado Terceiro Milênio está às nossas portas. As tão apregoadas mutações que trará em seu bojo, não foram anunciadas, na prática, há muito tempo. Quem viveu como eu, as radicais transformações trazidas pela era do Rock dos primórdios dos anos 60, o movimento da Jovem Guarda Brasileira que se seguia e o tempestuoso e vivencial tipo de vida dos “hippies”, com seus festivais sem nenhum limite, nota a marca que deixou na geração de jovens nos anos 70 e 80.
O uso indiscriminado das drogas e da liberdade sexual, trazida por essas revoluções sociais, modificaram o padrão de apreensão da realidade. Foi como que o rompimento de um imenso dique de águas há muito represadas por décadas de rígida educação familiar, religiosa, política e educacional que, inclusive vimos culminar com os movimentos estudantis desde maio de 1968 na França, se alastrando por todo o mundo.
Uma nota positiva resultante desse terremoto social, foi sem dúvida, a luta pelos direitos civis dos negros, mulheres e demais minorias sociais. Na certa, o mundo mudou e nós os mais velhos temos, seguramente, uma visão mais ampla das oscilações que nos trouxeram até o momento em que escrevo (reescrevo) estas linhas.
Mas, os jovens de hoje, sem a experiência do passado, herdaram apenas esse caos de revolta que manifestam sem bem saber o porquê, sem dúvida alguma conscientes de que alguma coisa está errada em seu mundo: desemprego em massa, falta de oportunidades, miséria social e moral, caos da saúde e da segurança, políticos não muito confiáveis, salários baixos, impostos e tarifas públicas sufocando a renda, e em contraste, uma natureza exuberante e uma riqueza natural à sua volta sem limites, formando um fundo incompreensível.
Se não bastasse isso, catástrofes naturais conseguem arruinar populações inteiras, a nova lei da educação não sai e o sistema educacional é praticamente improdutivo. Que fazer então? Deixar que nossa civilização se desmorone por incompetência ou omissão? O que, nós educadores podemos fazer O que a educação como um todo pode fazer?
Repensar a educação para um mundo em rapidíssimas transformações sociais e tecnológicas, certamente é um desafio inquietante e quiçá impossível, sem metas globais que incluam todos os setores da vida humana. E por ser a correção de tamanha envergadura que sozinhos, como educadores, não possamos empreender no todo, devemos cruzar os braços e destinar a outros essa tarefa? Não há nada mesmo que possamos fazer? Muitos acham que não vale a pena nem tentar, tal a desolação que tomou conta desses educadores. Eu, entretanto, penso diferente.
Podemos fazer muito, desde que cada um faça a sua parte. Certo é, no entanto, que para fazer a sua parte, é necessário um tipo de conhecimento especial. É preciso urgentemente saber para onde está indo a grande corrente humana de nossos dias.
Toda a hecatombe social que nos trouxe da década de 60, até o limiar do III Milênio, e que se traduziu numa profunda mudança de valores individuais e sociais, resultou em última análise, de uma crise existencial sem precedentes. De repente, o homem percebeu que o mundo estava contra ele, que a economia trabalhava para uns poucos privilegiados, que a natureza estava sendo devastada pela ganância, que a tecnologia afastava o homem de seu posto de trabalho e criava necessidades apenas secundárias, que os políticos trabalhavam para seus próprios interesses, que os governos, principalmente os do 3º mundo, não avançavam a educação, porque o analfabetismo lhes era útil na hora de enganar o povo e que finalmente as religiões não respondiam mais às questões fundamentais do SER.
Daí que todos os dirigentes, quer político-administrativos dos Governos e os Potentados das grandes religiões, ficaram bastante assustados quando leva de jovens começaram a aderir a movimentos e filosofias orientais. Que queriam afinal esses jovens com esse novo rumo? Era sem dúvida, uma busca de novos valores, talvez mais puros e que lhes dessem um novo significado para a vida.
Ignorando todo esse processo, a educação continuou preparando os indivíduos para responderem aos reclamos da economia e da tecnologia sem se preocupar com o lado humano, interior, prazeiroso, dadivoso da existência, que não proporcionava a ele, a sua devida integralidade.
Esquecem os sistemas, quer educativos, quer políticos, que estes não se transformam miraculosamente, só se modificam quando há em nós uma transformação fundamental. Esquecem que o indivíduo é que é de primordial importância, e não o sistema; e, enquanto o indivíduo não compreender o processo total de si mesmo, nenhum sistema trará ordem e paz no mundo.
A educação moderna redundou em completo malogro, por ter exagerado a importância da técnica. Encarecendo-a em demasia, corremos o risco de destruir o homem. Desenvolvendo capacidades e eficiência, sem a compreensão da vida, sem uma percepção total dos movimentos da mente e do desejo, tornar-nos-emos cada vez mais autômatos que seres conscientes.
O progresso técnico resolve determinados problemas para certas pessoas, num dado nível, mas, ao mesmo tempo, gera problemas mais vastos e profundos. Viver num só nível, desprezando o processo global da vida, é atrair desgraças e destruição. A maior necessidade e o problema mais urgente de todo o indivíduo é adquirir a compreensão integral da vida, que o habilite a enfrentar suas contínuas e crescentes complexidades. O saber técnico, embora necessário, de modo algum resolverá as nossas premências interiores e os conflitos psicológicos. Escolhemos uma profissão de acordo com as nossas aptidões (quando isso é possível); mas seguir uma profissão libertará o homem do conflito e da confusão?
Nosso progresso técnico é fantástico, mas só teve como resultado aumentar nossas angústias e a possibilidade de nos destruirmos mutuamente; e em todos os países do mundo, existe a fome e a miséria. Não somos entes pacíficos e nem felizes.
Que fazer então? Abandonar o ensino da técnica que nos proporcionou os sensacionais avanços da medicina, da ciência e nos levou a uma vida confortável que desfrutamos hoje? Certamente que esse não é o melhor caminho. Mas para que o homem possa melhor integrar-se em seu próprio mundo, urge humanizar a educação-instrução, para que o outro lado do SER possa se desenvolver.
Para tanto a educação, desde a mais tenra idade escolar deve estimular o indivíduo a descobrir os valores perenes, sem descurar dos novos que são também verdadeiros e que surgem com a investigação livre de preconceitos e com o autopercebimento.
A educação do III milênio não deve estimular o indivíduo a adaptar-se à sociedade ou a manter-se negativamente em harmonia com ela, pois as gerações passadas com suas ambições, tradições e ideais, perveteram as mais íntimas aspirações humanas. Portanto, condicionar os alunos a aceitar o atual ambiente, é manifesta falta de consciência.
O que precisamos compreender é que não somos apenas condicionados pelo ambiente, mas que SOMOS o ambiente, que não estamos separados dele. Nossos pensamentos e reações são condicionados pelos valores que a sociedade, da qual somos uma parte, nos impõe, quando somos adaptados a ela.
Cumpre, portanto, que a educação ajude a libertar o homem para que ele, imerso em valores perenes, quer os do passado, do presente ou os resultantes de suas próprias investigações, possa contribuir para a construção de um mundo mais justo e agradável de se viver.
Para tanto, a nova educação não pode fugir ao dever de ajudar esse novo homem a derrubar as barreiras de todos os condicionamentos sociais, religiosos, psicológicos que lhe são inculcados, bem como considerar como CRIME DE LESA-LIBERDADE, a diretividade pessoal do educador em questões que sabemos afetará crianças em idade de assimilação sem censura, em suas relações futuras.
Concluindo, os caminhos da existência devem ser palmilhados com a liberdade de escolha, mas se essa liberdade nos é cercada pela indicação dogmática de duma única via, a maturidade nos reserva a tristeza, os desajustes psicológicos e a incapacidade de nos encontrar, que leva à frustração, às drogas, à inadaptação sexual e matrimonial, enfim ao desajuste social.
Sem dúvida alguma, a educação para o III Milênio deve ser a FAVOR DO HOMEM, e não contra ele, como tem sido até agora, ou não teremos civilização nessa era, a ver pelos prenúncios recentes, retratados pelo comportamento humano manifesto que observamos em nossos dias.
Deixemos enfim, que a verdade apareça e flua, doa a quem doer!

Eu pensando em como teria sido bom se tivesse mudado alguma coisa!

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