segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MENSAGEM DAS 2ªS FEIRAS

A FILOSOFIA E A ESCOLA

“Viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem jamais fazer um esforço por abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daqueles que se encontram pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para regular nossos costumes e conduzir na vida que o uso de nossos olhos para guiar nossos passos” (Descartes, René, Carta-Prefácio aos Princípios).


Antes de entrar na discussão direta do tema que encabeça o título deste trabalho, permitam-me, fazendo um amalgama, apôr em seguida uma descrição livre do termo filosofia, para que assim possamos “a posteriori” melhor compreender sua (da filosofia) necessidade escolar.
Descrição

A Filosofia reúne todo o conhecimento científico para uma visão de conjunto dos fenômenos do Universo; procura conhecer o que, porventura existe por baixo e por detrás da realidade fenomenal e para além da natureza, ou realidade numenal ou substancial (substâncias consideradas realidades em si existentes e servindo de suporte aos fenômenos), a essência ou natureza íntima das coisas e a razão ou causa última de tudo, a fim de satisfazer, dessa forma, as exigências mais profundas da razão humana. É o que constitui a suprema atividade intelectual, conhecida pela designação de Conhecimento Filosófico ou Filosofia.

Pelo que se pode notar, essa descrição intencionalmente abrangente, permite-nos a visão de um quadro, no qual o conhecimento filosófico quer queiramos ou não, quer o ignoremos ou não, implícita-se na categoria das atividades intelectuais, sem que o possamos alijar. Por isso mesmo necessário libertá-lo e em sabendo libertá-lo, não só atingir a sabedoria como fim último, ou pelo menos saber viver o cotidiano da existência como um ser autônomo, com desejos e metas próprios e capacidade de realização.
Por isso mesmo, não se pode deixar de reconhecer que o estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza. Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si própria, tornando-se o estudante, ele mesmo esclarecido, portador de luz e força de discernimento.
Não pode, na nossa ótica, estar separada da educação, pois esta está ligada a uma premência do próprio homem. É ela – a educação – o conduto por onde transita a torrente da vida que demanda do passado. É através dela que o homem entrega a outros homens seus germes, suas sementes, suas esperanças.
Assim, que glória maior poderia a educação carregar, do que se propor, se obrigar a ser a transmissora dessa luz, desse discernimento e dessa sabedoria, que sem dúvida, tornará o homem, sempre melhor do que foi?
A educação, considerada apenas em termos de uma informação, de uma aquisição de conceitos, de formação somente para o trabalho, é uma visão distorcida do ser do homem no mundo.
Georges Gusdorf, em sua obra: Professores para que?, Filosofou um lindo e verdadeiro trecho que me permito aqui reproduzir:

“... seja qual for o momento da história da humanidade, viver nunca foi simples. Viver não é o desenrolar espontâneo de uma atividade que a si mesma se inventasse numa constante felicidade de expressão. Viver implica saber-viver; viver pressupõe ter vivido. Cada existência depende de existências anteriores, sem fim, que fixaram as grandes linhas segundo as quais se há de desenrolar a sua aventura. Todo o homem que vem ao mundo vem menos para viver do que para reviver de acordo com felicidades cujas origens se perdem na noite dos tempos.”
“a função pedagógica tem por tarefa situar os jovens no horizonte espaço-temporal da vida comunitária. Graças a ela, uma família humana determinada toma consciência de si em cada um dos indivíduos que dela dependem. Sob pena de não ser mais uma pessoa deslocada num universo vazio de sentido, todo homem deve encontrar o seu lugar entre os homens graças à sua iniciação nos temas, estruturas e aspirações cuja convergência define o programa vital de uma dada sociedade, isto é, a sua cultura.”

Se num rasgo de imodéstia inserirmos nesse contexto, que na sua iniciação o termo estrutura abrangente como está colocado, nele caberia insinuar-se que, a atividade de pensar, raciocinar e de intuir, próprias do conhecimento filosófico - o que não significa que o autor não o tenha percebido – também faria parte dessa estrutura, esse texto, para nosso propósito, estaria perfeito. Perfeito porque, no diálogo do homem com o homem e do homem com o mundo, o pensamento, através da linguagem, da sabedoria e do conhecimento, perfaz uma essencialidade que não permite tergiversações e erros, levando os seres a um maior entendimento recíproco.
Assim, pode-se facilmente deduzir que Filosofia e Escola, são entidades justapostas e indissolúveis para que o homem através do conteúdo de uma e a atividade da outra, se torne verdadeiramente homem, capaz de em sabendo pensar, raciocinar e intuir, saber escolher, decidir, caminhar e atingir metas, sem necessidade de se submeter a orientações político-ideológicas, das falsas orientações da mídia em todas as suas formas de expressão e mesmo orientando-se por uma atividade imitativa de outros homens. Cada ser ocupa um lugar no espaço e num tempo determinado, com uma missão própria, da qual, em dela fugindo, atrairá para si, somente o sofrimento e a infelicidade.
Concluindo, podemos facilmente observar que, a Filosofia, através do conteúdo que expressa e coloca à disposição do homem, pode libertá-lo das injunções do mundo e das circunstâncias cambiantes e a Escola, em cumprindo o seu dever de guardiã do saber, não pode se furtar à obrigação de ensinar Filosofia (em todos os graus de ensino) sob pena de negar às gerações futuras (como já vem acontecendo), um instrumental básico para a direção de suas próprias vidas. Infelizmente, essa é a uma sofrida lição que estamos aprendendo, ao ver uma geração inteira de brasileiros – por longos anos sem um contato efetivo com a Filosofia, num momento crucial de sua formação.

Eu pensando a quem interessa a ignorância do povo.


(até a próxima semana)

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