segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MENSAGENS DAS 2ªS FEIRAS

RE-CONSTRUÇÃO DO SER HUMANO EM SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO


Prof. MsC. Pedro Henriques Angueth de Araujo



Qualquer interferência mais profunda e prolongada na organização da vida, que perturbe a harmonia e o conjunto dos fatores vitais elementares, provoca necessariamente doença.
Quando falamos em “doença” não estamos pensando unicamente no ser vivo individual. Através da experiência histórica sabemos que também as coletividades podem adoecer. Diz-se que uma família está doente, que um povo, ou a humanidade encontra-se enferma. As populações também são organismos vivos. E a vida é a condição eventual de toda doença – não havendo vida também não pode haver doença. A doença deve ser entendida como uma experiência básica complementar à saúde, e como tal ela é imanente à própria vida.
Mas também sabemos de povos e culturas que adoeceram e não mais se recuperaram, que pereceram e desapareceram do mundo. Estaria nossa humanidade enferma correndo o risco de desaparecer?
As doenças, não resta dúvida, são viagens à região sombria da vida. Mas também percebemos que “estar doente” não precisa ser sinônimo de derrota. Na doença, e com a doença, nos é dada também a oportunidade de uma melhor saúde, e de chegarmos a percebê-la de forma mais consciente.
Possuímos duas cidadanias, uma no reino dos sãos e outra no reino dos enfermos. A segunda pode nos ser incômoda, mas não podemos livrar-nos dela, que faz parte de nós como a própria sombra. Resta-nos apenas explorar o reino da doença, para podermos empregar uma diplomacia adequada.
Aplicado ao mundo, “explorar a doença” significa pôr corajosamente o dedo nas feridas abertas pelo próprio homem no mundo enquanto organismo, neste planeta com vida, alma e inteligência.
Pela palavra “mundo” empregada aqui, entendemos o nosso mundo terreno, o reino do homem, com o ambiente em que ele vive, com os seus semelhantes, o mundo das nossas experiências e do nosso trabalho.
Ultimamente o homem tem-se comportado como se fosse o “criador do mundo”. Graças à força de sua inteligência e à sua fantasia sem limites libertou-se da condição de mero objeto da evolução, elevando-se à de sujeito que a evoca. Tomou posse do reino animal e vegetal, não só aproveitando-se deles, mas conseguindo modifica-los, produzir “criativamente” quimeras como até agora não nos eram conhecidas senão através dos contos, das fábulas e dos mitos. Inexoravelmente o homem vai estendendo seu domínio a todas as criaturas não-humanas. Pela primeira vez o destino de todos os seres vivos encontra-se em suas mãos.
Perguntamos: qual a gravidade da doença deste mundo que nos pertence? E se nos interrogarmos sobre a gravidade da doença, não deveríamos também perguntar-nos no mesmo momento sobre a saúde do mundo? Como é que o mundo deveria se apresentar? Será que um mundo são não existe a não ser em nossa imaginação, carecendo de qualquer sentido de realidade? E chegamos à conclusão de que tal mundo nunca existiu, e nunca há de existir. Nossos estudos de história universal informam-nos que com muito mais freqüência a humanidade teve que viver em períodos de crise que em períodos ditos normais. Mas quem pode definir o que seja um “período normal”?
Sabendo disto, o sábio estaria mais inclinado a deduzir a tendência para o bem, o impulso – real ou presumido – para o progresso, para o “evoluir sempre mais para o alto”. Pois da crise não procede a catarse, a purificação, a renovação, a mudança de rumo e a conversão?
Com isto estaríamos fazendo menção do princípio esperança, com que Ernst Bloch pretendeu ordenar as razões últimas do ser e do pensar – se bem que não no sentido teológico. Contudo, ele se encontra aqui com Blaise Pascal , na medida em que este pretendia alcançar uma ordem através de princípios e fundamentos que deveriam partir menos da inteligência que do coração. Destas inspirações do coração poderíamos esperar melhores vislumbres da condição do homem, do que ele tem de discutível e de fraco, mas também da sua acessibilidade a Deus, da necessidade que ele tem de Deus, e, portanto, da salvação.
Mas como se encontram estas forças do coração nos dias de hoje? Não foram elas derrotadas pelas forças da inteligência? Principalmente agora? Doenças como perturbações da harmonia não raro possuem um longo estágio de latência. As raízes dos atuais fenômenos patológicos na esfera psicossocial penetram profundamente no passado. Podem ser buscadas no cartesianismo, com sua absolutização racionalista da razão. O cogito, ergo sum de Descartes suplantou o credo, ergo sum de Pascal. O homem de hoje perdeu a ligação com a realidade integral e esqueceu que tem necessidade tanto de uma máxima como de outra.
Nosso tempo ainda continua sendo o tempo do moderno. Este mundo moderno assim dizem os filósofos, assim dizem os médicos, os físicos, os cientistas, aqueles que refletem, encontra-se atolado na crise. Crises, porém, impelem ao retorno e à mudança. Elas são precursoras de uma modificação dos padrões, de uma mudança de todo o quadro das convicções, dos valores, dos procedimentos, da concepção das coisas, da vida como modelo e como padrão.
Doentes sempre haverá, sociedades doentes também, até que um dia no futuro, possamos nos concientizar de que a solidariedade e a compaixão, devem fazer parte da nossa consciência cotidiana.
Isso em relação aos indivíduos seria plenamente factível, no entanto, o Estado com sua ganância política e econômica, dificultam qualquer acesso a esse modo de existir.
No entanto, no nível do individual, poderíamos acessar outros instrumentos para que possamos ser mais felizes, independentemente do que estiver acontecendo à nossa volta.
A reconstrução do ser humano em sua relação com o cotidiano passa, inexoravelmente por um processo de autoformação, levando-se em conta que a necessidade que temos hoje em dia de aderir à técnica da aquisição do autoconhecimento é a que nos faculta o poder viver independentes dos conceitos que as diversas instâncias da sociedade implantaram em nós.
Se como eu disse em artigos anteriores que se dependermos de famílias, processos educacionais, sistemas religiosos e cultura social, (sociedade instrumental) que não têm condições de nos dar os referenciais para tal, temos que nos autoformar sob pena de continuarmos escravos de conceitos que só nos fazem viver uma vida mal vivida.
A aplicação da boa consciência, racionalidade nos processos de decisão e uma intuição ativa, podem ajudar e muito a vislumbrar o caminho a seguir.
Descartes, filósofo do início da era moderna nos deixou uma fórmula que hoje praticamente ninguém utiliza. Para tanto ele escreveu um livro inteiro , ou seja, toda uma técnica de como encontrar a verdade. Essa técnica reduz-se em duvidar de tudo, examinando tudo, até poder separar o joio do trigo.
Ora o que mais vemos hoje em dia, é o indivíduo acreditar em tudo sem um mínimo de senso crítico, colocando em prática ações que, sem o saber, muitas vezes são nocivas a ele.
No plano da cultura, os usos, costumes e conceitos admitidos têm muito do que não é bom utilizar, mas como a crença fala mais alto, dificilmente se pode detectar o que é falso e o que é verdadeiro. Essa é a nossa grande crise hodierna e cotidiana.
Não basta uma educação esmerada e dinheiro no bolso. O que vamos fazer com isso é o que conta. Necessitamos urgentemente de reformar a nossa visão de mundo não só pessoal, mas também cultural, ou o futuro nos propiciará crises ainda mais profundas, cujas soluções passam por um processo de autoconhecimento.
A doença quer pessoal ou social é o resultado inexorável das nossas emoções, sentimentos e pensamentos desequilibrados, face ao que acontece à nossa volta e à maneira errada de agirmos no modo de trabalhar, divertir, aprender, comer e te dormir.
Precisamos construir à nossa volta um escudo com o qual nos isolarmos das influências deletérias que nos cercam. Mas para isso, teremos que ter conhecimento que normalmente o mundo como está não nos proporciona. Isolar simplesmente (física e geograficamente), não é uma idéia saudável. Temos que viver no mundo e com o mundo, mas sem deixar que ele penetre em nós e nos destrua pela doença.
Concluindo, temos a qualquer custo que encontrar um caminho de autoconhecimento que nos dê as armas de que precisamos, para nos conhecer melhor, encontrar nossas verdadeiras capacidades, visitar o nosso interior e lá dialogar com a “pessoa” sábia que lá mora desde o início da evolução.
Somente assim, saudáveis e com o conhecimento correto, podemos não só vencer o mundo, como colaborar para que ele seja tão saudável quanto nós.

Eu pensando em como seria bom que todos fossem saudáveis.
(até a próxima segunda-feira)

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