segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MENSAGEM DAS 2ªS FEIRAS

O PROBLEMA DO SOFRIMENTO

Prof. Msc, FRC, Pisc. Pedro Henriques Angueth de Araujo
http://www.pedroangueth.blogspot.com


O sofrimento é dor ou angustia que se manifesta como resultado do estímulo exterior, através das faculdades sensoriais, ou de conclusões interiores, julgamentos e percepções. Qualquer que se a sua causa é um estado oposto à alegria e ao prazer. De conformidade com, praticamente, todas as religiões e filosofias, o sofrimento é parte do fado de cada ser humano. Temos aprendido que a vida e o sofrimento são sinônimos. Não pode haver vida sem sofrimento e, por isso, seria difícil para nós, avaliar como o sofrimento poderia existir sem haver uma entidade consciente para se tornar inteirada desse estado ou condição.
O sofrimento que decorre do impacto de forças exteriores sobre o corpo físico é, comumente, interpretado como dor e sentido por todos os organismos biológicos, tanto quanto sabemos. Mesmo a mais inferior forma de vida, o insignificante animal unicelular, reage aos estímulos externos, com a pressão, o choque elétrico, ou o contato com um ácido.
A maneira em que o organismo vivo reage à dor ou aos estímulos externos que a provocam, varia consideravelmente com a própria vida. As formas de vida mais aprimoradas (sistemas complexos), tornam-se mais sensitivas à dor, dada justamente à complexidade de seus mecanismos, e de conformidade com todos os fatos observáveis, já do nosso conhecimento. Provavelmente, o ser humano e umas poucas das mais evoluídas espécies de mamíferos, são mais sensitivos aos estímulos externos e, por essa razão, experimentam, tanto a dor como o prazer, mais intensamente do que as formas mais primitivas.
A angústia é uma forma de dor que nem sempre é associada com a dor física. É o tipo que advém da intranqüilidade ou preocupação. Em outras palavras, ele assoma à consciência, no interior da própria mente do homem, como resultado de suas observações, conclusões e experiências existenciais. A angústia que experimentamos com o desfecho incerto de uma situação, de acontecimento que está ocorrendo ou que seja iminente, pode ser quase tão extrema, e muitos o afirmariam, mais extrema para provocar sofrimento, do que a própria dor física. As situações tensas, como as que se apresentam quando a vida está em jogo ou o futuro seriamente afetado ou ameaçado, são meios que dão origem à angústia, que pode a ponto de se tornar quase insuportável e derivar para outras formas de afecções.
Foi com base nesta descoberta organizada em forma de entrevistas, que Sigmund Freud deu início ao espetacular movimento da Psicanálise. Investigando os problemas que afligiam as 5 (cinco) personalidades femininas que constituem sua primeira comunicação psicanalítica, juntamente com o Dr. Breur, foi que ele se deu conta de que elas sofriam de angústia de recordações de fatos já há muito vividos.
O sofrimento experimentado pelas formas mais evoluídas e naturalmente mais complexas, torna-se mais agudo com a capacidade do homem para perceber seu meio e sobre ele refletir. O filósofo naturalista John Burroughs , observou que os pássaros que experimentavam aquilo que os seres humanos chamariam de uma forma de angústia, recuperavam-se rapidamente. Por exemplo, referiu-se ele aos ninhos de pássaros que quando destruídos, sendo mortos os filhotes; não obstante, dentro de um tempo comparativamente curto voltavam à vida normal. Algumas vezes apenas em questão de minutos, esses pássaros retomavam a sua conduta habitual cantando, e, mesmo, dando a aparência externa de se sentirem felizes.
Um acontecimento similar que se abatesse sobre um ser humano, provocaria um estado de dor, angústia e mesmo melancolia , durante longo tempo, possivelmente, mesmo, durante o resto da existência, tornando-se um problema existencial permanente. Como o homem tem se tornado mais sensitivo e perspicaz em sua compreensão e conduta em seu meio ambiente, tornou-se, também, mais sensitivo a quaisquer condições que pudessem interferir com a sua adaptação às condições ambientes.
Quando o homem vivia em pequenas comunidades ou lidava, estreitamente com apenas grupos limitados de pessoas, o sofrimento era, principalmente, uma preocupação individual, embora fosse ele observado e com a participação daqueles que cercavam. Houve, obviamente, épocas de sofrimento relativamente pequeno, por parte de pequenos grupos de indivíduos. Na sociedade dita evoluída de complexidades cada vez mais crescentes, da qual fazemos parte hoje em dia, jamais estamos por demais afastados do sofrimento. Não somente está o sofrimento em notícias (TV, jornais, revistas, internet ou diretamente) como resultado contínuo de acontecimentos nacionais e mundiais, bem como no nosso viver cotidiano, é ele repetidamente trazido à nossa atenção de uma maneira explícita.
História, livros, peças, novelas, filmes e noticiários, tendem a acentuar a existência do sofrimento humano, quer individual ou coletivo. Ligue o seu televisor e praticamente em qualquer hora do dia ou da noite, e, em algum canal, encontrará uma notícia, peça ou drama, no qual os indivíduos estão sofrendo dor e angústia. Isto existe a um ponto tal, que nos tornamos endurecidos em nossa atitude para com aqueles que sofrem; é não obstante uma das características salientes do comportamento humano que afetam e o colocam à parte de outros seres vivos, inclusive outros seres humanos na sua faculdade de manifestar solidariedade e compaixão.
Devemos todos sofrer, podemos, porém ser também tolerantes para com aqueles que estão sofrendo. Devíamos, portanto, manifestar solidariedade e compaixão, demonstrando, claramente, por nossas condutas – e refiro-me à nossa conduta total – que lamentamos estar uma pessoa ou uma sociedade passando por experiências dolorosas. Devíamos também, tornar conhecido o fato de que, se houver algo que pudermos fazer para minorar qualquer das condições que dão origem ao sofrimento, não pouparíamos esforços para prestar ajuda a quem quer que esteja sofrendo.
Que o homem é o guardião de seu irmão, é uma lei cósmica. Ninguém está só. Ninguém faz de si mesmo uma ilha, portanto, tudo que causa sofrimento a uma outra pessoa, deveria provocar também, em mim, sofrimento e angústia. Se eu não tentar aliviar o sofrimento do meu semelhante, terei menor possibilidade de aliviar o meu próprio.
Não se torna necessário manifestarmos compaixão e solidariedade por atos exagerados e públicos. Algumas vezes, os atos exagerados têm muito pouca significação. Hoje em dia, a remessa de flores ou de um cartão, (quando a pessoa não está ao alcance físico), como um substituto para uma demonstração de preocupação sincera. Quando somos vitimados pelo sofrimento, podemos facilmente reconhecer aqueles que, sinceramente, conosco se solidarizaram e ofereceram o seu auxílio. Isto, em certo sentido, representa uma condição relacionada com o sofrimento vicarial. Semelhante condição decorre do sofrimento de uma pessoa por sua participação solidária nas experiências de uma outra.
Não solucionaremos os problemas de uma outra pessoa ou aliviaremos o seu sofrimento, assumindo a sua dor, faremos, todavia, a outra pessoa compreender que há união em toda a vida. Toda a humanidade sentir-se-á estimulada e amparada se cada um de nós compreender que a carga que suportamos não é exclusivamente nossa. Portanto, embora nem sempre possamos aliviar o sofrimento do outro, mesmo que desejamos afastar a dor que representa sua carga, poderemos praticar a verdadeira compaixão. Por nossa atitude, poderemos demonstrar que nós, também, somos mortais e desejamos provar, àqueles que sofrem, que temos passado por experiências duras e às vezes semelhantes e vencemos cada uma delas. Cada ser humano deve se tornar cônscio de que estamos nesta vida procurando alcançar um estado de perfeição no qual a dor e a angústia não mais serão forças contra as quais teremos que lutar.


Eu pensando em quanta tragédia coletiva e pessoal presente em nossas vidas e sabendo que quem poderia ajudar a minorá-la só está curtindo a mudança de um palácio para outro.

(até a próxima 2ª feira)

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