segunda-feira, 7 de março de 2011

MENSAGEM DAS 2ªS FEIRAS

PROIBIÇÕES E TABUS

Parte I
Relembrando o passado para ordenar o presente e o futuro

Antigamente e quando eu digo antigamente é para trás de pelo menos 50 (cinqüenta) anos, tudo era diferente. Meu exemplo neste artigo se refere a uma realidade verificável para aquela época, numa pequena cidade qualquer do estado mais conservador do país (até hoje), ou seja, as Minas Gerais.
Para começar não tínhamos geladeira, telefone, e outras comodidades de hoje, somente um bom e usado rádio que servia para notícias, ouvir propaganda de tudo que existe hoje na televisão, e também para novelas que ficaram famosas e depois televisadas.
Famílias tinham privacidade, só amigos se visitavam sem aviso prévio, crianças levantavam cedo, arrumavam cada um sua cama na qual não podiam se deitar até à noite, todos tinha deveres com a casa. Na minha de três irmãos à época, por exemplo, a cada semana num rodízio, um encerava a casa com cera e depois o escovão (não existia enceradeira), um lavava a louça do dia e o outro enxugava. Isso era uma rotina para anos a fio.
Quando chegavam visitas as crianças eram proibidas de acompanhar os adultos e nem pensar participar da conversa. Todos os adultos era tratados por senhor ou senhora, os padrinhos e madrinhas eram respeitados como se fossem os pais, os velhos era venerados.
Os vizinhos não faziam barulho de nenhum modo. As ruas também eram via de regra silenciosas, pois, quase não havia automóveis. As festas sociais eram intensamente participadas, ou seja, toda a família unida. Na época de São João havia a indefectível fogueira (quanto maior melhor) e nos céus da cidade pululavam os balões de todos os tamanhos e modelos. Havia peritos em fabricação de balões, que não eram proibidos à época.
Os brinquedos eram fabricados pelas próprias crianças pois não os havia facilmente em lojas da cidade. As brincadeiras também eram de alguma forma inventadas pela criançada (nomenclatura válida até aproximadamente 14 anos).
As frutas produzidas em quintais não eram vendidas. Os vizinhos eram convidados a desfrutá-las quando maduras.
Na escola os professores detinham toda a autoridade secundada pela família. Quando um(a) aluno(a) era punido na escola a punição se repetia em casa. Ou seja, havia uma vigilância dupla escola/família. A escola ensinava e o aluno aprendia. Para se ter uma vaga idéia de como era, ao fim do primeiro ano escolar todos saiam perfeitamente alfabetizados e sabendo todas as quatro operações fundamentais da matemática, inclusive toda a tabuada devidamente decorada. Não havia progressão automática e repetições eram severamente punidas pela família. A boa escola era a pública, a particular era ruim quando existia. Ao fim do 4º ano primário os alunos eram submetidos ao primeiro vestibular acadêmico, o famigerado Exame de Admissão. Quem nela passava, continuava a ter vaga na escola pública, quem era reprovado não tinha mais direito a ensino custeado pelo estado.
As mulheres em quase sua totalidade não fumavam e quando faziam era em segredo ou em grupos.
O sexo era intensamente vigiado tanto pela família, como pela Igreja (seja lá qual for) e pela sociedade. As mocinhas eram intocáveis e os adolescentes homens faziam sua estréia sexual ou com as empregadas domésticas, muito comum na época, ou os próprios pais os levavam aos prostíbulos ou zonas de meretrício para provarem serem machões. E aí do filho que não desse conta do recado!
Não havia divórcio e muito mal o desquite que transformava a mulher numa vagabunda. Mães solteiras quase não existiam e as amasiadas quando tinham filhos, estes eram considerados filhos ilegítimos, pois só o nome da mãe era colocado na certidão de nascimento. Mais tarde, via de regra, todos esses filhos ilegítimos eram de uma forma ou outra perseguidos pela sociedade, principalmente professores mais ortodoxos e conservadores que conheciam a situação.
As moças que não se casassem até por volta de 24 (vinte e quatro) anos transformavam-se em titias e viviam o resto de suas vidas solteiras e se queimando por dentro e por fora.
Uma mocinha grávida estemporaneamente gerava um tumulto de graves proporções, até que o casamento ser efetivado nem que fosse para dar satisfação à sociedade e à Igreja.
Não havia essa coisa de um membro da família pertencer a uma religião diferente. Ninguém gozava dessa liberdade. Todos os membros da família pertenciam e freqüentavam juntos a Igreja e suas ocasionais festas religiosas. As religiões da época, ou seja, catolicismo e protestantismo juntos eram solidários no combate ao espiritismo e a Igreja Católica até onde eu sei sempre combateu a Maçonaria.
Na minha cidade, por exemplo, um católico deveria evitar de passar em frente da igreja protestante no passeio em frente. Era orientado a atravessar a rua, margear o passeio oposto e depois se quisesse poderia voltar para o outro lado da rua. Da mesma maneira deveria proceder com respeito ao Centro Espírita e à Loja Maçônica.
Houve até um fato curioso. Um protestante da cidade, querendo ser prefeito e sabendo que, como protestante, não conseguiria se eleger, resolveu abjurar sua religião e se converter ao catolicismo. Isso com tempo suficiente para que toda a cidade ficasse sabendo de seu ato.
Poucos anos depois ele foi efetivamente eleito a prefeito e como bom católico (convertido) teve uma ampla votação. Foi um bom prefeito. Mas quando ele passou o cargo para o próximo (naquela época não havia reeleição) ele imediatamente voltou à sua Igreja original. Só então os cidadãos da cidade perceberam que foram enganados. Não tenham dúvida, essa é uma história verídica.
A primeira e corajosa moça que resolveu um dia pular na piscina com um maiô de duas peças, foi imediatamente retirada da área de esportes da cidade. Anos ainda foram transcorridos sem que isso fosse permitido.
Os meninos começavam a trabalhar cedo. Eu mesmo comecei aos 11 (anos) e hoje com quase 72 (setenta e dois) anos ainda não parei. Trabalho não adoece, não mata e é até onde eu sei o melhor educador do caráter do homem. Erra o Estado de hoje proibi-lo.
Algumas novidades então, começaram a aparecer. Por exemplo: o Rock and roll, nova forma de dançar inteiramente diferente do até então vivido pela mocidade. Entra em cena a pílula anticoncepcional que tanta dor de cabeça deu aos pais das mocinhas mais travessas, aparece o movimento da jovem guarda com Roberto Carlos e companhia, os “hippies” e sua contracultura.
Até então, as doenças físicas e psíquicas de homens e mulheres eram diferentes, pois as atividades de cada um eram bem precisas e balizadas.

(Este artigo terá continuação na próxima semana)

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